O Papel do Professor no Processo de Ensino-Aprendizagem de uma Sociedade em Rede
The role of the teacher in the teaching-learning of a network society
Maria Emanuel Melo de Almeida, Universidade Aberta, Portugal
Resumo: Este artigo elaborado a partir do estudo realizado sobre “o papel do professor no processo de ensino-aprendizagem de uma sociedade em rede” tem por objetivo saber qual é o papel do professor no processo de ensino-aprendizagem de uma sociedade em rede. Para tal procurou-se aprofundar algumas temáticas designadamente: a sociedade em rede e a educação; a profissão docente e a sociedade em rede; informação, conhecimento e sociedade em rede; o papel do docente na sociedade do conhecimento; a virtualidade nos processos de ensino-aprendizagem; o processo de ensino-aprendizagem na sociedade em rede. Por fim apresentam-se as conclusões em que se refere que a escola, nomeadamente os professores, perante a nova sociedade em rede, devem ser capazes de desenvolver nos estudantes competências que lhes permitam participar e interagir num mundo competitivo, encontrar soluções para os problemas do futuro, na medida em que a aprendizagem não é um processo estático, mas dinâmico que acontece ao longo de toda a vida.
Palavras-chave: ensino-aprendizagem, professor, sociedade em rede, sociedade da informação, sociedade do conhecimento, novas tecnologias.
Abstract: This article drawn from the study on "the role of the teacher in the teaching-learning of a network society process" aims to know the teacher's role in the teaching-learning process of a networked society. To this end sought to deepen some issues in particular: the network society and education; the teaching profession and the network society; information, knowledge and network society; the role of teachers in the knowledge society; virtuality in the teaching-learning processes; the process of teaching and learning in the network society. Finally we present the conclusions in relation to the school, including teachers, namely the new network society, should be able to develop students skills to participate and interact in a competitive world, find solutions to the problems of future to the extent that the learning process is not a static but dynamic happens throughout life.
Keywords: information society, knowledge society, new technologies, network society, teacher, teaching and learning.
Introdução
Este artigo faz parte de uma pesquisa exploratória e descritiva, elaborada com base na bibliografia que aborda a temática relacionada com “o papel do professor no processo de ensino-aprendizagem de uma sociedade em rede” e tem por objetivo saber qual é o papel do professor no processo ensino-aprendizagem numa sociedade em rede.
A fim de responder ao objetivo proposto aprofundaram-se as seguintes temáticas: a sociedade em rede e a educação; a profissão docente e a sociedade em rede; a informação, conhecimento e sociedade em rede; o papel do docente na sociedade do conhecimento; a virtualidade nos processos de ensino-aprendizagem; o processo de ensino-aprendizagem na sociedade em rede. Após esta pequena explanação teórica, apresentam-se as conclusões em que se refere que a escola, nomeadamente os professores, perante a nova sociedade em rede devem ser capazes de promover o desenvolvimento nos estudantes de competências que lhes permitam participar e interagir num mundo competitivo, encontrar soluções para os problemas do futuro, na medida em que a aprendizagem não é um processo estático, mas dinâmico que acontece ao longo de toda a vida.
Atualmente o desenvolvimento científico e tecnológico está ligado ao que hoje se designa por sociedade do conhecimento através do desenvolvimento das novas tecnologias de informação, motivo pelo qual o conceito de sociedade de informação foi ultrapassado pela designação de sociedade em rede (Osório, 2003).
É de relevar que a sociedade em rede permite estabelecer ligações e intercâmbio de conhecimentos, potenciando um acelerado processo de transformação que se manifesta através das rápidas mudanças que ocorrem em todos os setores da sociedade, assim como na globalização da informação e da comunicação (Fernandes, 2000: 27).
A utilização das tecnologias digitais modificou a sociedade atual, o seu modo de vida e forma de pensar, transformando-a numa sociedade do conhecimento. Todas as alterações influenciaram o modo de apresentar a informação, nos diferentes meios de comunicação através da web 2.0, nas formas de aprendizagem começando pelo e-learning, b-learning chegando até às aulas presenciais. Estas tecnologias procuraram ainda otimizar e tornar possíveis, os processos de ensino através da aplicação das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs).
É um desafio para o sistema educativo desenvolver instrumentos que facilitem os processos de ensino-aprendizagem nas aulas. Perante um elevado crescimento da quantidade e da qualidade da informação que circula em todos os âmbitos das áreas do conhecimento e da vida na sociedade, surgiu a Web a partir da qual se verifica uma constante evolução na vida quotidiana, tal como sucede atualmente com as redes sociais.
1. A sociedade em rede e a educação
Segundo Castells (2006) a superioridade histórica das organizações verticais hierárquicas sobre as redes deve-se ao facto das organizações sociais em rede terem que vencer limites materiais relativamente à tecnologia disponível. As redes são consideradas uma extensão do poder centrado no alto das organizações verticais que configuram a história da humanidade. Porém, a cultura da liberdade foi decisiva para produzir as tecnologias em rede que serviram de infraestrutura, para que as empresas pudessem realizar a restruturação de acordo com a globalização, a descentralização e as redes.
Trabalhos de interesse em todos os campos das ciências sociais e humanistas mostram que a sociedade em rede é uma forma de organização social sustentada pela informação.
É ainda de realçar como Castelles (s.d.) constrói o seu raciocínio a partir da história do desenvolvimento das tecnologias após a década de 1970 e dos impactos que teve nos diferentes campos das relações humanas. Este autor apresenta um seu ponto de vista teórico intitulado “cultura da virtualidade real” evidenciando o facto de que as culturas consistem em processos de comunicação que se baseiam em sinais e que não há separação entre “realidade” e “representação simbólica”. Este aspeto é importante, visto que as relações humanas se verificam, cada vez mais, em ambientes multimédia, embora os seus efeitos não tenham sido ainda bem estudados.
Assim, a rápida evolução em direção à sociedade da informação está a produzir mudanças fundamentais na própria estrutura social tal como se conhece. A relação que se pode ter com a informação e as possibilidades de comunicação de que se dispõe, produzem alterações substanciais em todos os âmbitos da sociedade, nomeadamente na maneira de organizar a educação, nos modos de ensinar e aprender, os quais podem estar ajustados a sistemas educativos que preparam as pessoas para ocupar um lugar numa sociedade que foi ultrapassada (Hargreaves, 2003a; Morin, 2001; Martínez et. al, 2001; Marchesi, 2000; Pérez, 2000).
As novas possibilidades de relação com o conhecimento que se configuram ao redor da Internet e da sociedade em rede (Castells, 2001a; Lèvy, 1998) evidenciam a necessidade de ir para além da transmissão direta da informação aos alunos, entendendo que, mais do que nunca, o desafio consiste na capacidade de aprender e de elaborar o próprio conhecimento. De acordo com este ponto de vista está-se perante um elemento de divisão social muito mais importante que a conetividade técnica, pois consiste na capacidade educativa e cultural de utilizar a Internet. Quando toda a informação está em rede, quando o conhecimento está em rede, o conhecimento codificado não é o essencial para o que se pretende fazer, porque o que se pretende, é saber onde está a informação, como encontrá-la, como processá-la, como transformá-la em conhecimento específico para o que se deseja realizar (Castells, 2001b).
Numa economia progressivamente desenvolvida à volta da aprendizagem, é necessário fortalecer a capacidade de processamento da informação que está ao alcance de cada individuo, a fim de promover a sua integração no conjunto de conhecimentos que possui (OCDE, 2000). Dada a velocidade do aparecimento e atualização dos conhecimentos existentes nas nossas sociedades, as instituições educativas por vezes limitam as suas funções a tarefas meramente instrutivas e transmissivas, fornecendo aos alunos conhecimentos em certos casos antiquados. A aprendizagem não termina na escola, por isso é importante sublinhar que os centros educativos devem desenvolver um papel relevante na capacitação das pessoas, em função da sua autonomia na aprendizagem e na orientação em direção à aquisição de novos conhecimentos (Delors, 1996). A incorporação das pessoas neste novo modelo cria-lhes ainda a necessidade de desenvolver a capacidade de iniciativa, a proatividade e a orientação na resolução de problemas (Hargreaves, 2003a). Neste sentido, a escola tem a função de capacitar os seus alunos para o trabalho em rede, ou seja em equipa e em colaboração com outras equipas de acordo com as solicitações do mundo do século XXI (Carnoy, 2002; Coller, 1997).
Este aspeto que se baseia na conceção da aprendizagem e que concede a máxima importância à atividade do aluno evidencia quanto urge sublinhar que a influência educativa exercida pelo professor como mediador entre a atividade construtiva do aluno e os conteúdos escolares continua a ser fundamental (Coll e Onrubia, 1996).
É de relevar que a ação docente constitui um processo decisivo de ajuda capaz de se adaptar à atividade do aluno enquanto protagonista. Assim, realça-se a importância de se aproximar a configuração da ação docente neste processo, evidenciando atributos como seja: o posicionamento do professor no processo de ensino aprendizagem e a consequente atitude do aluno; a capacidade docente de personalização e de adaptação à diversidade neste processo; a relevância que se atribui à colaboração com outras pessoas e singularmente com os colegas; o uso que se faz do material didático e por fim a natureza dos processos de avaliação. Perante o exposto torna-se significativo analisar a profissão docente na sociedade em rede.
2. A profissão docente e a sociedade em rede
Nos últimos tempos duas linhas de desenvolvimentos social convergem na consciência dos professores e na consciência que a sociedade tem dos mesmos. Por um lado a erupção das TICs e as possibilidades que oferecem para a aprendizagem, a necessidade de adaptação dos docentes ao novo contexto e a urgência que deve ser assumida pelos poderes públicos de verificarem que os novos tempos exigem algo mais do que a inversão das infraestruturas, redes e computadores. Por outro lado a progressiva desvalorização da função docente faz com que os professores sintam como um imperativo a reivindicação de um status profissional e social. A dignificação não é conseguida unicamente, como se concetualizou na antiga ética capitalista através da questão do dinheiro, mas implica também o reconhecimento. Atualmente questiona-se o papel do professor como profissional cujo imperativo se baseia em conceitos como dever, profissionalização e como questão retributiva.
Pode-se então verificar a existência de duas orientações relacionadas com os novos contextos de aprendizagem: a crise na fundamentação dos valores do trabalho e o surgir de novos valores como resposta ao mau estar reinante. Esta questão é também comum a outros âmbitos do mundo das tecnologias digitais como por exemplo da sociedade em rede.
Para Castells (1999) quando se fala de sociedade em rede está-se a falar de um desenvolvimento social autónomo que foi alterado pela expressão de Internet, a qual passa a ser uma rede fria de cabos, ondas e bites, enquanto que a sociedade expressa os processos sociais, os interesses sociais, os valores sociais e as instituições sociais. Não é uma sociedade como tradicionalmente se conhece, pois é uma sociedade diferente. Pode-se então perguntar em que sentido é diferente? A diferença consiste na especificidade da Internet que constitui a base material e tecnológica da sociedade em rede. Assim, a infraestrutura tecnológica e a organização do meio permite o desenvolvimento das novas formas de relação social que não têm propriamente a sua origem na Internet, mas são fruto de uma série de mudanças históricas que não se poderiam realizar sem a Internet.
É de destacar que a Internet também não é uma simples tecnologia, mas é o meio de comunicação que constitui a forma organizativa das atuais sociedades. É o coração de um novo paradigma sociotécnico que constitui a base material da vida quotidiana, assim como das relações de trabalho e de comunicação dos indivíduos. A Internet o que faz é processar a virtualidade e transformá-la na atual realidade, constituindo a sociedade em rede que é aquela em que se vive.
3. Informação, conhecimento e sociedade em rede
Urge constatar como as novas tecnologias da informação criaram novos espaços de conhecimento.
Para além da escola, também a empresa, a casa e o espaço social tornaram-se educativos. Hoje em dia, as pessoas estudam cada vez mais em casa, pois é um local onde podem aceder ao ciberespaço da formação e da aprendizagem à distância, procurar a informação disponível nas redes que respondem às necessidades e questões do conhecimento. É ainda de referir que a sociedade civil se reforça não apenas como espaço de trabalho, mas também como espaço de difusão e de reconstrução de conhecimentos.
Subjacente a toda esta análise das tecnologias da informação e do conhecimento, destaca-se ainda a função social da mesma. Nesta medida é importante não cair numa análise inocente, pois o conhecimento pode ser equiparado a poder.
Assim, abordar o tema da sociedade em rede e da sociedade do conhecimento sem fazer um estudo sobre o seu papel político e social, é excluir a questão do conhecimento e entender a sociedade, como se fosse homogénea, sem contradições nem conflitos, motivo pelo qual importa tratar o aspeto do papel do conhecimento na sociedade em rede.
Como previa Herbert McLuhan, citado por Gadotti (2005), na década de 60, o planeta tornou-se uma sala de aula e o espaço de aprendizagem dos indivíduos. Deste modo o ciberespaço rompeu com a ideia de tempo próprio para a aprendizagem e o espaço de aprendizagem tanto pode ser aqui como em qualquer lugar, na medida em que o tempo de aprender tanto é hoje como sempre.
Atualmente vale tudo para aprender. Este aspeto ultrapassa o fator da reciclagem, da atualização dos conhecimentos e vai muito para além da assimilação dos mesmos.
A sociedade do conhecimento é uma sociedade de múltiplas oportunidades de aprendizagem, por estes motivos as consequências para a escola, para o professor e para a educação são grandes, entre as quais se destacam as seguintes: ensinar a pensar, saber comunicar, saber pesquisar, ter raciocínio lógico, fazer sínteses e abordagens teóricas, saber organizar o seu próprio trabalho, ter disciplina, ser independente e autónomo, saber articular o conhecimento com a prática, ser aprendiz autónomo e a distância. Neste contexto, o professor é muito mais um mediador do conhecimento, diante do aluno que é o sujeito da sua própria formação. O aluno precisa construir e reconstruir conhecimento a partir do que faz. Para isso o professor precisa de ter curiosidade, saber pesquisar e apresentar novas perspetivas para o trabalho a realizar com os alunos. Ele já não leciona como era concebido até há pouco tempo, passando a ser um organizador do conhecimento e da aprendizagem.
Pode-se dizer que o professor se tornou um aprendiz permanente, um construtor de sentidos, um cooperador e sobretudo, um organizador da aprendizagem. Se se fala do professor de adultos e do professor de cursos à distância, esses papéis são ainda mais relevantes. Não serve de nada ensinar, se os alunos não conseguem organizar o seu trabalho, serem sujeitos ativos da aprendizagem, autodisciplinados e motivados, não sendo portanto suficiente dar oportunidade a todos de acesso à escola, embora o direito à educação implique o direito de aprender na escola.
Segundo Luiza Cortesão, citado por Gadotti (2005), ser professor pode ser “um ofício em risco de extinção”. Na verdade um certo tipo de professor pode estar em risco de extinção, por exemplo aquele que é funcionário da eficácia e da competitividade. A mesma autora refere ainda que existe uma contradição entre o professor “a preto e branco” ou seja o professor “monocultural”, bem formado, seguro, claro, paciente, trabalhador e distribuidor de saberes, eficiente, exigente e o professor “intermulticultural” que não é um “daltónico cultural”, porque se apercebe da heterogeneidade, é capaz de investigar, de ser flexível e de recriar conteúdos e métodos, de identificar e analisar problemas de aprendizagem e de elaborar respostas às diferentes situações educativas. Um, não se pergunta porque ser professor, mas apenas cumpre ordens, currículos, programas, pedagogias. O outro questiona-se sobre seu papel. Um está centrado nos conteúdos curriculares e o outro no sentido do seu ofício. Pelo exposto, constata-se que na realidade determinado tipo de professor pode estar em risco de extinção.
É de relevar que a sociedade contemporânea está marcada pela questão do conhecimento. E não é por acaso. O conhecimento tornou-se peça chave para entender atualmente a própria evolução das estruturas sociais, políticas e económicas. Mais do que na era do conhecimento, deve-se dizer que se vive na era da informação, pois há mais facilidade em perceber a disseminação da informação e a manipulação de dados, do que a oportunidade de criar conhecimento. O acesso ao conhecimento é ainda muito precário, sobretudo em sociedades em vias de desenvolvimento educacional e social.
Segundo Gadotti (2005) a sociedade em rede, ao mesmo tempo que é uma sociedade de múltiplas oportunidades de aprendizagem é também uma sociedade de novas exigências para a escola, o currículo, o professor e o aluno. O professor passa a lecionar menos e passa a gerir melhor a aprendizagem, visto que as teorias do conhecimento estão centradas sobretudo na aprendizagem e na aquisição do conhecimento.
4. O papel do docente na sociedade do conhecimento
Na atual sociedade do conhecimento em que a informação se atualiza constantemente e é acessível através das TICs, o papel do professor deixou de ser unicamente o de transmissor do conhecimento, pois são necessárias outras fontes para completar a informação que possui.
Neste sentido e tal como já foi referido, o professor tem que alterar o seu papel e converter-se em “gestor de conhecimento” (Moreno, M., 2013). Segundo Fernández (2004) o paradigma que consiste na aula magistral tornou-se obsoleto, visto que o professor já não é o possuidor exclusivo da informação, mas deve desenvolver várias competências: analisar as fontes informativas, conhecer a sua matéria e gerir a informação sobre a mesma, assim como facilitar oportunidades de aprendizagem.
Hernández (2004) refere que o professor deve responder aos objetivos da educação do século XXI e que deve atuar de modo a preparar as novas gerações, a fim de participarem e possuírem uma reflexão crítica no que se refere ao uso e à interpretação que dão às tecnologias.
Hoje em dia os professores não só transmitem conhecimentos, mas também estratégias de aprendizagem, orientam o aluno no processo da pesquisa de informação, questionando-a, compreendendo-a e convertendo-a em conhecimento.
Para adotar este novo papel o docente deve adquirir competências no uso das novas tecnologias. Não é preciso ser um especialista, mas é necessário que possua e receba informações que lhe permitem adquirir competências básicas para a sua aplicação. Deste modo, deve usar as tecnologias ativamente e compreender que a importância da Internet consiste em comunicar com outras pessoas (Zabalza, 2003).
Portanto é importante que o professor adote uma atitude critica e construtiva, conheça as possibilidades das novas tecnologias, selecione adequadamente, utilize e produza materiais didáticos que promovam a aquisição da aprendizagem significativa, assim como o protagonismo e a responsabilidade dos alunos (Hernández, 2004).
5. A virtualidade nos processos de ensino aprendizagem
A educação atual enfrenta múltiplos desafios. Um deles consiste em dar resposta às profundas mudanças sociais, económicas e culturais que se preveem na sociedade da informação. A Internet e a sociedade em rede causou um enorme interesse em todos os âmbitos da sociedade. A sua utilização com fins educativos é um campo aberto à reflexão e à investigação. Assim, salientam-se certos aspetos da sociedade em rede como recurso tecnológico no processo ensino-aprendizagem aberto, dinâmico e flexível, e descrevem-se ainda algumas caraterísticas dos ambientes virtuais de aprendizagem, cujo objetivo é integrar curricularmente as TICs nos processos ensino aprendizagem.
De acordo com Sierra (2008) a educação em rede é geralmente conhecida como educação virtual, a qual procura implementar, através de aplicações telemáticas a qualidade da comunicação, da formação presencial na educação a distância, mediada pela tecnologia e pela pedagogia. A relação estabelecida entre o tecnológico e o pedagógico configurou diferentes formas de ensino-aprendizagem incorporando novos papeis nos atores educativos, assim como novas dinâmicas nos mesmos. Por isso as aulas virtuais são o modo de integrar os efeitos didáticos das aulas reais em contextos onde não é possível reunir fisicamente os participantes num processo ensino-aprendizagem. É evidente que a modalidade educativa que pode beneficiar mais desta tecnologia é o ensino virtual. Todo este processo carateriza o ensino e a aprendizagem, como uma construção letiva e colaborativa entre os seus atores, com os seus papéis definidos, na modalidade virtual a partir da qual assumem o processo como um aprender a aprender, tudo isto dinamizado pela pedagogia ativa e pelas estratégias didáticas que esta oferece quando se utilizam as TICs na educação.
Perante estas transformações tecnológicas e pedagógicas, a aula virtual é um conceito que agrupa atualmente as possibilidades de ensinar em rede através da Internet. Em princípio uma aula virtual é um conjunto de ensino–aprendizagem baseado num sistema de comunicação mediado pedagogicamente pelas tecnologias, especialmente as relacionadas com a web2.0. Estas inovações permitem gerar atividades conjuntas entre estudantes e professores, convertendo-se em processos de ajuda colaborativa, permitindo, em certa medida, garantir a construção de conhecimento com significado e sentido.
Esta dinâmica entre os conteúdos, os estudantes e os professores ligados em ambientes virtuais de ensino-aprendizagem, mudou a relação dos mesmos relevando-lhes o sentido do processo, o qual se centra atualmente nos estudantes.
Também é certo que as TICs estão a mudar a sociedade e influenciam muito a educação, criando cenários novos e valiosos tanto para o processo de ensino como para o de aprendizagem.
Na atualidade a tecnologia permite recriar o ambiente da aula em forma virtual. Deste modo as aulas virtuais, os campos virtuais convertem-se em metáforas que fazem referência ao ambiente onde se desenvolve o processo educativo.
Para concluir, os ambientes virtuais desvendam possibilidades de inovação para favorecer os processos de ensino-aprendizagem, porém a mera incorporação de ferramentas tecnológicas não garante uma melhoria na qualidade educativa. Esta tensão entre as possibilidades e as limitações são próprias de toda a ação humana e em especial da educativa, por isso pensar na educação virtual pode constar num conjunto de perguntas sobre questões que não têm uma resolução única e final.
6. O Processo de Ensino-Aprendizagem na Sociedade em Rede
Com o avanço da tecnologia surge a necessidade de se aperfeiçoarem as competências que permitam a utilização dos equipamentos tecnológicos. Não se pode afirmar que um indivíduo pertence ao mundo tecnológico, porque o desenvolvimento tecnológico e a manipulação dos seus artefactos são praticamente impraticáveis por qualquer ser humano, embora seja possível a sua utilização por um conjunto de indivíduos onde cada um possui a sua especialidade.
Contudo o desenvolvimento das competências ligadas à tecnologia é um fator importante na globalização das ideias e das experiências acumuladas ao longo dos tempos. Uma vez que se constroem equipamentos com alta capacidade produtiva e com baixo custo operacional, é preciso que exista mão de obra qualificada para operar com os referidos equipamentos.
Urge, portanto que os professores e os alunos adquiram conhecimentos mínimos que lhes permita utilizar os artefactos das TICs. Esta questão não é tão simples quanto parece, pois faltam competências no que se refere à utilização da tecnologia da informação no processo ensino-aprendizagem, sobretudo por parte dos professores.
Como o objetivo deste estudo consiste em verificar qual o papel do professor no processo de ensino-aprendizagem na sociedade me rede, importa conhecer quais as competências que os docentes devem possuir, a fim de saber processar a informação cedida pela sociedade em rede.
Castells (1999) considera que a sociedade vive uma revolução informacional que pode ser comparada aos grandes períodos históricos pela qual já passou.
Considerando a grande necessidade de conhecimentos tecnológicos do século XXI, é importante refletir sobre as consequências do domínio ou não, de tais conhecimentos no âmbito dos professores.
Perante o facto de que a presença da tecnologia é já uma realidade em grande parte das escolas portuguesas, é preciso refletir sobre a formação do professor face à utilização desses equipamentos. As mudanças que se verificam no contexto educacional com a introdução de novas tecnologias, permitem a obtenção de mais informações científicas, sobre a utilização da tecnologia na educação, bem como sobre a necessidade de os professores possuírem os conhecimentos indispensáveis para as utilizarem.
O processo ensino-aprendizagem que permitiu até agora aos professores acompanharem os alunos através do conhecimento dos conteúdos. No entanto, começam a fazer-se sentir as consequências da falta de acompanhamento no que se refere à evolução da tecnologia no processo de ensino-aprendizagem.
A incorporação das novas tecnologias no processo ensino-aprendizagem só tem sentido se contribuir para a melhoria da qualidade do ensino. A simples presença de novas tecnologias na escola não é, por si só, garantia de maior qualidade na educação, pois a aparente modernidade pode mascarar um ensino tradicional baseado na receção e na memorização de informações (Gatti, 1993). Esta ideia é reforçada por Moran (1995) ao referir que a conceção de ensino-aprendizagem se revela na prática da sala de aula e na forma como professores e alunos utilizam os recursos tecnológicos disponíveis. A presença do aparato tecnológico na sala de aula não garante mudanças na forma de ensinar e aprender. A tecnologia deve servir para enriquecer o ambiente educacional, contribuindo para a construção de conhecimentos por meio de uma educação ativa, crítica e criativa por parte de alunos e professores.
Devido à diversidade regional e cultural que Portugal possui, para além das desigualdades sociais e económicas, não é possível pensar num modelo único para a incorporação dos recursos tecnológicos na educação. Urge elaborar propostas que tenham em consideração os interesses e as necessidades das várias regiões e comunidades em que se encontram inseridas as escolas, de acordo com o contexto social e económico de cada uma.
Se a escola for entendida como um local de construção de conhecimento e de socialização do saber, como um ambiente de discussão, troca de experiências e de elaboração de uma nova sociedade, é fundamental que a utilização dos recursos seja discutida e elaborada conjuntamente com a comunidade escolar. Em diversos países uma parte das experiências feitas através da aplicação das tecnologias informacionais na escola estão apoiadas numa conceção tradicional de ensino-aprendizagem. Este facto deve alertar para a importância da reflexão sobre, qual é a educação que se quer oferecer aos alunos, para que a incorporação da tecnologia não seja o antigo disfarçado de moderno.
Verifica-se assim que os meios eletrónicos de comunicação oferecem amplas possibilidades para proporcionarem a transmissão e memorização de informações. A título de exemplo, a correta utilização do computador permite novas formas de trabalho, possibilitando a criação de ambientes de aprendizagem em que os alunos possam pesquisar, fazer simulações, confirmar ideias prévias, experimentar, criar soluções e construir novas formas de representação mental, entre outras. Além disso, permite a interação com outros indivíduos e comunidades, utilizando os sistemas interativos de comunicação, como seja a sociedade em rede.
Conclusões
No que se refere à utilização de novas tecnologias no contexto educacional, verifica-se que o professor se encontra inserido num emaranhado de conexões cujo centro é móvel, pois a mudança é frequente, esperada e, por vezes, singular. Não há uma tecnologia específica a ser utilizada, nem uma forma única de aplicação dos recursos tecnológicos, mas um leque de oportunidades educativas que as diferentes tecnologias revelam, cabendo ao professor adequá-las às necessidades e especificidades da escola e do aluno com quem interage.
Entretanto, para que tais adaptações se possam concretizar, é necessário que o professor domine de certo modo as possíveis aplicações da tecnologia na educação.
É ainda importante que os professores estejam preparados para interagir com as novas tecnologias no ambiente de trabalho, estimular e facilitar a difusão da informática educacional, procurar subsídios para a elaboração de projetos pedagógicos, de acordo com a disciplina e o nível escolar dos alunos, proporcionar condições que permitam aperfeiçoar o uso da informática no processo de ensino-aprendizagem de todos os alunos, inclusive dos que apresentam deficiências, assim como avaliar as possibilidades de utilização de softwares nos projetos e atividades pedagógicas.
Certamente, o professor deve aprender também a utilizar as ferramentas básicas de Informática tais como: processador de textos; editor de desenhos; banco de dados; multimédia e Internet, permitindo o desenvolvimento de competências para o enriquecimento da prática pedagógica. Assim, para que se possam vislumbrar possibilidades de sucesso na utilização de novas tecnologias na educação, é necessário considerar os professores não apenas como executores de um projeto já definido pela informatização da escola, nem como responsáveis pela utilização dos computadores e consumidores dos materiais e programas escolhidos pelos idealizadores do projeto, mas como parceiros na conceção de todo o trabalho.
A formação do professor deve prover condições para que o próprio construa conhecimento sobre as técnicas computacionais, entenda o porquê e como integrar o computador na sua prática pedagógica e seja capaz de superar barreiras de ordem administrativa e pedagógica. Finalmente, devem ser criadas condições para que o professor saiba re-contextualizar tanto a aprendizagem como as experiências vividas durante a sua formação para a realidade da sala de aula, compatibilizando as necessidades dos seus alunos e os objetivos pedagógicos que se propõe atingir.
Assim, cabe ao docente informar-se, adaptar-se e adequar-se às novas tecnologias de informação/formação que se apresentam, pois, a sociedade do conhecimento requer um novo perfil de profissional.
Pode-se portanto constatar que tanto a Internet como as tecnologias digitais fizeram emergir um novo paradigma social, descrito por alguns autores, como sociedade da informação ou sociedade em rede alicerçada no poder da informação (Castells, 2003), sociedade do conhecimento (Hargreaves, 2003b) ou sociedade da aprendizagem (Pozo, 2004). Um mundo onde o fluxo de informações é intenso, em permanente mudança, e “onde o conhecimento é um recurso flexível, fluido, sempre em expansão e em mudança” (Hargreaves, 2003b: 33). Um mundo sem território, onde não existem barreiras nem de tempo, nem de espaço, facilitador e promotor da comunicação entre as pessoas. Uma nova era que oferece múltiplas possibilidades de aprender e em que o espaço físico da escola, tão importante noutras décadas, neste novo paradigma, deixa de ser o local exclusivo para a construção do conhecimento e preparação do cidadão para a vida ativa.
O desafio imposto à escola e aos professores por esta nova sociedade em rede é imenso, sendo-lhes exigido prioritariamente que promovam nos estudantes o desenvolvimento de competências para participarem e interagirem num mundo global, altamente competitivo que valoriza o individuo flexível, criativo, capaz de encontrar soluções inovadoras para os problemas do futuro, assim como a capacidade de compreenderem que a aprendizagem é um processo dinâmico que deve acontecer ao longo de toda a vida.
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